SÁNGÒ

XANGÔ


Características gerais:


Trata-se de um dos Òrìà mais conhecidos nos cultos afros, seu nome parece ser derivado de àn - para atacar violentamente e gọ̀ - confundir, como referência aos trovões, que se supõe ser produzidos por golpes violentos. 


àngó faz parte da família real de Ọyọ, filho de Ọ̀ránmíyàn e Torosí (Ìyámasé) e neto de Odùdúwà, àngó destronou seu irmão Dàdá Ajaka e foi o terceiro a sentar-se no trono de Aláàfìn do Império de Ọyọ. 

àngó antes de se tornar Òrìà foi cultuado como Ègun (ancestral), como marca dessa época ficou várias características, como ofertar-lhe àgùtàn (carneiro), o seu saiote de gravatas (geralmente colorido) e outras. 

àngó é considerado a encarnação de Jàkúta (divindade primordial, “aquele que atira pedras do céu”) na terra, por isso quando foi divinizado lhe atribuíram à capacidade de atirar raios e pedras do céu. 

Seu emblema é o ò
é – um machado com duas lâminas estilizado, os ẹdọ̀n ará – “machados (pedra) de raio”, são as formações rochosas formadas pelo contato do raio no solo e o erẹ̀ – chocalho ritual de àngó. 

àngó tem caráter viril, justiceiro, violento, conquistador, também adora tudo ligado à vida e o que é duradouro, gosta do calor, de possuir, de reinar. 

àngó possuiu três esposas: Ọya, Òun e Ọbà, estas também se tornaram Òrìà com grande culto na África e na diáspora. àngó teve seu culto espalhado por quase toda a Nigéria e chegou até ao Benin. 

No Brasil seu culto está presente em todas as religiões afro-brasileiras.
àngó e sua ebí (família) são patronos de um dos maiores àẹ/ebí do Candomblé, o Àẹ Òpó Àfọ̀njá (poder sustentado por Afonjá), fundado por Ìyá Aninha ti àngó no século XX. 

àngó possui inúmeros iniciados por todo o Brasil, com sacerdotes importantes.

Ká wò kábíyèsí lé! (Levantem os olhos, venha ver o rei passar!).
Nem seria preciso falar do poder de Xangô (Sòngó), porque o poder é sua síntese. Xangô nasce do poder morre em nome do poder. Rei absoluto, forte, imbatível: um déspota. O prazer de Xangô é o poder. Xangô manda nos poderosos, manda em seu reino e nos reinos vizinhos. Xangô é rei entre todos os reis.
Não existe uma hierarquia entre os orixás, nenhum possui mais axé que o outro, apenas Oxalá, que representa o patriarca da religião e é o orixá mais velho, goza de certa primazia.

Contudo, se preciso fosse escolher um orixá todo-poderoso, quem, senão Xangô para assumir esse papel?

Xangô gosta dos desafios, que não raras vezes aparecem nas saudações que lhe fazem seus devotos na África. Porém o desafio é feito sempre para ratificar o poder de Xangô.

A maneira como todos devem se referir a Xangô já expressa o seu poder. Procure imaginar um elefante, mas um Elefante-de-olhos-tão-grandes-quanto-potes-de-boca-larga: esse é Xangô e, se o corpo do animal segue a proporção dos olhos, Xangô realmente é o Elefante-que-manda-na-savana, imponente, poderoso.

Percebe-se que a imagem de poder está sempre associada a Xangô. O poder real, por exemplo, lhe é devido por ter se tornado o quarto alafim de Òyó, que era considerada a capital política dos iorubas, a cidade mais importante da Nigéria. 
Xangô destronou o próprio meio-irmão Dadá-Ajaká com um golpe militar. A personalidade pacienciosa e tolerante do irmão irritavam Xangô e, certamente, o povo de Òyó, que o apoiou para que ele se tornasse o seu grande rei, até hoje lembrado.

O trono de Òyó já pertencia a Xangô por direito, pois seu pai, Oranian, foi fundador da cidade e de sua dinastia. Ele só fez apressar a sua ascensão.

Xangô é o rei que não aceita contestação, todos sabem de seus méritos e reconhecem que seu poder, antes de ser conquistado pela opressão, pela força, é merecido. 

Xangô foi o grande alafim de Òyo porque soube inspirar credibilidade aos seus súditos, tomou as decisões mais acertadas e sábias e, sobretudo, demonstrou a sua capacidade para o comando, persuadindo a todos não só por seu poder repressivo como por seu senso de justiça muito apurado.

Não erram, como se viu, os que dizem que Xangô exerce o poder de uma forma ditatorial, que faz uso da força e da repressão para manter a autoridade. Sabe-se, no entanto, que nenhuma ditadura ou regime despótico mantém-se por muito tempo se não houver respaldo popular.

Em outros termos, o déspota reflete a imagem de seu povo, e este ama o seu senhor, seja porque nos momentos de tensão responde com eficiência, seja por assumir a postura de um pai. 

No caso de Xangô, sua retidão e honestidade superam o seu caráter arbitrário; suas medidas, embora impostas, são sempre justas e por isso ele é, acima de tudo, um rei amado, pois é repressor por seu estilo, não por maldade.

Fato é que não se pode falar de Xangô sem falar de poder. Ele expressa autoridade dos grandes governantes, mas também detém o poder mágico, já que domina o mais perigoso de todos os elementos da natureza: o fogo. 

O poder mágico de Xangô reside no raio, no fogo que corta o céu, que destrói na Terra, mas que transforma, que protege, que ilumina o caminho. O fogo é a grande arma de Xangô, com a qual castiga aqueles que não honram seu nome. Por meio do raio ele atinge a casa do próprio malfeitor.

Xangô é bastante cultuado na região de Tapá ou Nupê, que, segundo algumas versões históricas, seria terra de origem de sua família materna.

Tudo que se relaciona com Xangô lembra realeza, as suas vestes, a sua riqueza, a sua forma de gerir o poder. A cor vermelha, por exemplo, sempre esteve ligada à nobreza, só os grandes reis pisavam sobre o tapete vermelho, e Xangô pisa sobre o fogo, o vermelho original, o seu tapete.

Xangô sempre foi um homem bonito extremamente vaidoso, por isso conquistou todas a mulheres que quis, e, afinal, o que seria um ‘olhar de fogo’senão um olhar de desejo ardente? Quem resiste ao olhar de flerte de Xangô?

Xangô era um amante irresistível e por isso foi disputado por três mulheres. Iansã foi sua primeira esposa e a única que o acompanhou em sua saída estratégica da vida. È com ela que divide o domínio sobre o fogo.

Oxum foi à segunda esposa de Xangô e a mais amada. Apenas por Oxum, Xangô perdeu a cabeça, só por ela chorou.

A terceira esposa de Xangô foi Oba, que amou e não foi amada. Oba abdicou de sua vida para viver por Xangô, foi capaz de mutilar o seu corpo por amor o seu rei.
Xangô decide sobre a vida de todos, mas sobre a sua vida (e sua morte) só ele tem o direito de decidir. 

Ele é mais poderoso que a morte, razão pela qual passou a ser o seu anti-símbolo.

Orixá de grande valia e importância nos Cultos Afro-Brasileiros, tem alguns cultos que levam o seu próprio nome, tamanha a popularidade deste Orixá. Divide com Ogum a popularidade e o respeito dos fiéis, tanto nos Candomblés (diversas nações) como na Umbanda. Xangô foi o grande Obá (rei) da cidade de Oyó, representando, na linha de sucessão, seu quarto alafin (segundo fontes fidedignas).

Ele fez sua passagem pela Terra por volta de 1450 a. C., filho de Oranian e Torossi. Governou com mãos de ferro, sendo, ao mesmo tempo, temido e adorado pelo povo. Muitas vezes comportou-se como tirano, na sua ânsia pelo poder. 

Alguns relatos afirmam que Xangô destronou seu próprio irmão, Dadá-Ajaká, para tomar o seu lugar. É o orixá das pedreiras, das terras áridas e das rochas. Seu elemento é o fogo, dominando também o raio e o trovão. O metal a que pertence é o cobre.

Possui, como símbolo da natureza, a pedra de raio, que se cria quando um raio cai na terra. Sua ferramenta principal é o Oxé, ou machado duplo,
simbolizando a imparcialidade na hora da justiça.

Carrega também o Xerém, espécie de cabaça que é usada por certas qualidades deste Orixá. Xangô detém um profundo conhecimento e ligação com as árvores, de onde provêm muitos de seus objetos de culto, como a gamela e o pilão. 

É muito violento, mas nunca gratuitamente. Quando provocado, castiga seus inimigos sem piedade, sendo implacável nas guerras de conquista, atividade que exerce com maestria. 

Se for necessário, Xangô usa seus poderes de feitiçaria para destruir o inimigo. Como grande amante da justiça, é imparcial em suas ações, usando toda sua autoridade para resolver as mais difíceis questões, tarefa que ninguém gosta de fazer. 

Sempre podemos recorrer a ele quando nos defrontarmos com questões litigiosas ou problemas jurídicos. Segundo a mitologia africana, um traço marcante desse orixá é o fato de se fazer notar, sendo muito atraente e vaidoso. Ele teve várias uniões com outros orixás, como Oxum, Obá e Iansã, que era sua prima e esposa predileta. 

Diz a tradição de lendas que Xangô tem medo da morte, pelo fato de abandonar a cabeça (ou ori) de seus filhos de santo. Orixá poderoso que não teme nada, não suportanto o frio que emana de um corpo sem vida. Xangô possui a energia do fogo, que irradia calor e possibilita a existência da vida. A morte e o frio são contrários à sua essência.

Nos meses de junho, mantém-se uma tradição festiva, que são as famosas fogueiras de Xangô, feitas em sua homenagem. Xangô é um orixá que teve vontade de experimentar a criação divina, ou seja, ele quis nascer e viver aqui na Terra. 

Como foi dito no início, existiu um rei, na cidade de Oyó, que era muito poderoso, sendo identificado como a energia Xangô. São Gerônimo (Agodô) é o sincretismo mais conhecido deste Orixá. São Pedro (Alafim), São João Batista (Xangô do Ouro ou Xangô menino) e São José (Agaju) também são qualidades de Xangô. 

Embora alguns estudiosos dão também como sincretismo São Miguel e São Gabriel. Orixá presente em todas as feituras de casas de santo, tem no axé da casa a sua Pedra Sagrada conhecida como “Okanixé”. Outras qualidades de Xangô são: Abomi, Alufam, Airá, Echê e Ibaru.

Esta sentado no meio de 12 ministros chamados (obagues) que seriam seus ministros. Os ministros da direita absolvem enquanto os da esquerda condenam. Para o contexto Umbandista, Xangô mora no alto de uma pedreira, e carrega o livro sagrado (as escrituras) e as Sete Chaves da Sabedoria. 

Xangô controla todas as forças naturais por intermédio dos astros, é conhecido como o Rei dos Astros. Vive no seu castelo, além do seu criado Oxumarê (quando o arco-irís aparece, significa que Oxumarê veio a Terra e está levando água ao Reino de Xangô), tem como servos Biri (as trevas) e Afefe (o vento). 

Nos candomblé dança com suas cores rituais que são o vermelho, branco e marrom. Algumas qualidades trazem na cabeça um gorro na cor vermelha. 

Para se entender o culto aos Orixás, é necessário conhecer o significado da palavra: o orixá é a força da natureza divinizada. 

De acordo com as lendas Yorubás, os orixá vieram do Orum para o Ayé (do céu para a terra). Tiveram corpo físico na Terra por algum tempo, com vida semelhante à dos homens. Depois voltaram em definitivo para o Orum, deixando para os homens as instruções de como seriam cultuados futuramente. 

É considerado um ancestral divinizado em razão das lendas que contam sua origem. Após um reinado tumultuado, Xangô, que era violento e brigão, desapareceu misteriosamente. Xangô é o deus do trovão, das tempestades, do raio; quando ele está com raiva, lança chamas pela boca e incendeia as casas.

Em sua sacola (labá) Xangô guarda as pedras do raio, edun ará (machados neolíticos), que lançasobre os que o ofendem. Quando o relâmpago cai sobre a terra diz-se que essas pedras caem e ficam enterradas por sete anos, antes de voltar à superfície. 

Xangô ama a boa comida e a abundância; é cruel, viril, atrevido e gozador.

Em África, existia um Orixá chamado Jakutá, ligado ao sol, que simbolizava a justiça, a lei, a boa ordem e protegia os inocentes. Como o seu culto foi perdido, as características de Jakutá foram assimiladas por Xangô.

Xangô traz nas mãos o Oxé, machado de dois lados representando o peso igual nos julgamentos.

Traz também o xere, espécie de chocalho usado para despertar a ira dos raios e das trovoadas.

Os Édún Árá (pedras de raio - na verdade, pedras neolíticas em forma de machado), são consideradas emanações de Xangô, e são colocadas sobre um Odó (pilão de madeira esculpida - consagrada a Xangô). seu simbolo é Oxé (machado de duas lâminas).

Em sua dança, o alujá, Xangô brande orgulhosamente seu oxé e assim que a cadencia se acelera, ela faz um gesto de quem vai pegar num labá (sua bolsa) imaginário, as pedras de raio, elança-las sobre a terra.

Xangô é cultuado as quartas-feiras com Iansã e com Obá. No Brasil é Orixá de alta patente, tendo em Alagoas e em Sergipe significado de Casa de Santo ou terreiro. Seu cardápio sagrado é constituído de Abô (carneiro), Akukó (galo), Etu. Seu animal sagrado é o Ajapá (cágado). Uma das comidas mais conhecidas deste Orixá é o Amalá, espécie de pirão de farinha com carne misturado com quiabos, colocado na gameleira e enfeitado com certo numero de quiabos (em geral 12) mais pode variar de acordo com o intuito e com a qualidade. 

Sua filiação seria Oxalá e Yemanjá. Sua área de atuação seria a justiça e todas as causas que dependem de certa atenção. Está presente também na proteção de catátrofes e tragédias. Sua bebida é o aluá ou a cerveja preta. Suas contas são de cor marrom. 

Oxóssi é considerado o Rei da nação de Ketu, enquanto Xangô é considerado o rei de todo o povo.

Deus do raio e do trovão, dono do fogo, foi um grande rei que unificou todo um povo. 

Foi ele quem criou o culto de Egungun, sendo ele o único Orixá que exerce poder sobre os mortos.

Xangô é a roupa da morte, por este motivo não deve faltar nos Egbòs de Ikù e Egun, o vermelho que lhe pertence.

Ao se manifestar nos Candomblés, não deve faltar em sua vestimenta uma espécie de saieta, com cores variadas e fortes, que representam as vestes dos Eguns. 

Xangô era forte, valente, destemido e justo. Era temido, e ao mesmo tempo adorado. Comportou se em algumas vezes como tirano, devido a sua ânsia de poder, chegando até mesmo a destronar seu próprio irmão, para satisfazer seu desejo. 

Filho de Yamasse (Torosi ) e de Oraniã, foi o regente mais poderoso do povo. Ele também tem uma ligação muito forte com as árvores e a natureza, vindo daí os objetos que ele mais aprecia, o pilão e a gamela, sendo que o pilão de Xangô deve ter duas bocas, que representa a livre passagem entre os mundos, sendo Xangô um ancestral( Egungun ). 

Da natureza, ele conseguiu profundos conhecimentos e poderes de feitiçaria, que somente eram usados quando necessários. Tem também uma forte ligação com Oxumaré, considerando ele como seu fiel escudeiro.

Nem seria preciso falar do poder de Xangô (Sòngó), porque o poder é sua síntese. Xangô nasce do poder morre em nome do poder. Rei absoluto, forte, imbatível: um déspota. O prazer de Xangô é o poder. Xangô manda nos poderosos, manda em seu reino e nos reinos vizinhos. Xangô é rei entre todos os reis. 

Não existe uma hierarquia entre os orixás, nenhum possui mais axé que o outro, apenas Oxalá, que representa o patriarca da religião e é o orixá mais velho, goza de certa primazia. Contudo, se preciso fosse escolher um orixá todo-poderoso, quem, senão Xangô para assumir esse papel? 

Xangô gosta dos desafios, que não raras vezes aparecem nas saudações que lhe fazem seus devotos na África. Porém o desafio é feito sempre para ratificar o poder de Xangô. 

Não erram os que dizem que Xangô exerce o poder de uma forma ditatorial, que faz uso da força e da repressão para manter a autoridade. Sabe-se, no entanto, que nenhuma ditadura ou regime despótico mantém-se por muito tempo se não houver respaldo popular. 

Em outros termos, o déspota reflete a imagem de seu povo, e este ama o seu senhor, seja porque nos momentos de tensão responde com eficiência, seja por assumir a postura de um pai.

No caso de Xangô, sua retidão e honestidade superam o seu caráter arbitrário; suas medidas, embora impostas, são sempre justas e por isso ele é, acima de tudo, um rei amado, pois é repressor por seu estilo, não por maldade. 

Fato é que não se pode falar de Xangô sem falar de poder. Ele expressa autoridade dos grandes governantes, mas também detém o poder mágico, já que domina o mais perigoso de todos os elementos da natureza: o fogo. O poder mágico de Xangô reside no raio, no fogo que corta o céu, que destrói na Terra, mas que transforma, que protege, que ilumina o caminho. O fogo é a grande arma de Xangô, com a qual castiga aqueles que não honram seu nome. Por meio do raio ele atinge a casa do próprio malfeitor. 

Tudo que se relaciona com Xangô lembra realeza, as suas vestes, a sua riqueza, a sua forma de gerir o poder. A cor vermelha, por exemplo, sempre esteve ligada à nobreza, só os grandes reis pisavam sobre o tapete vermelho, e Xangô pisa sobre o fogo, o vermelho original, o seu tapete. 

Xangô sempre foi um homem bonito extremamente vaidoso, por isso conquistou todas a mulheres que quis, e, afinal, o que seria um ‘olhar de fogo’ senão um olhar de desejo ardente? Quem resiste ao olhar de flerte de Xangô? 

Xangô era um amante irresistível e por isso foi disputado por três mulheres. Iansã foi sua primeira esposa e a única que o acompanhou em sua saída estratégica da vida. È com ela que divide o domínio sobre o fogo. Oxum foi à segunda esposa de Xangô e a mais amada. Apenas por Oxum, Xangô perdeu a cabeça, só por ela chorou. 

A terceira esposa de Xangô foi Oba, que amou e não foi amada. Oba abdicou de sua vida para viver por Xangô, foi capaz de mutilar o seu corpo por amor o seu rei. 

Xangô decide sobre a vida de todos, mas sobre a sua vida (e sua morte) só ele tem o direito de decidir. Ele é mais poderoso que a morte, razão pela qual passou a ser o seu anti-símbolo.


Xangô, Rei de Oió



Reginaldo Prandi

Armando Vallado


I: O obá Xangô

Obá é palavra da língua iorubá que designa rei. Obá é também um dos epítetos do orixá Xangô (não confundir Obá, rei, soberano ( oba ), com o orixá Obá ( Òbà ), que é uma das esposas de Xangô).

Segundo a mitologia, Xangô teria sido o quarto rei da cidade de Oió, que foi o mais poderoso dos impérios iorubás. Depois de sua morte, Xangô foi divinizado, como era comum acontecer com os grandes reis e heróis daquele tempo e lugar, e seu culto passou a ser o mais importante da sua cidade, a ponto de o rei de Oió, a partir daí, ser o seu primeiro sacerdote.

Não existem registros históricos da vida de Xangô na Terra, pois os povos africanos tradicionais não conheciam a escrita, mas o conhecimento do passado pode ser buscado nos mitos, transmitidos oralmente de geração a geração.

Assim, a mitologia nos conta a história de Xangô, que começa com o surgimento dos povos iorubás e sua primeira capital, Ilê-Ifé, fala da fundação de Oió e narra os momentos cruciais da vida de Xangô:

“Num tempo muito antigo, na África, houve um guerreiro chamado Odudua, que vinha de uma cidade do Leste, e que invadiu com seu exército a capital de um povo então chamado Ifé.

Quando Odudua se tornou seu governante, essa cidade foi chamada Ilê-Ifé. Odudua teve um filho chamado Acambi, e Acambi teve sete filhos, e seus filhos ou netos foram reis de cidades importantes.

A primeira filha deu-lhe um neto que governou Egbá, a segunda foi mãe do Alaqueto, o rei de Queto, o terceiro filho foi coroado rei da cidade de Benim, o quarto foi Orungã, que veio a ser rei de Ifé, o quinto filho foi soberano de Xabes, o sexto, rei de Popôs, e o sétimo foi Oraniã, que foi rei da cidade Oió, mais tarde governada por Xangô.


“Esses príncipes governavam as cidades que mais tarde foram conhecidas como os reinos que formam a terra dos iorubás, e todos pagavam tributos e homenagens a Odudua.

Quando Odudua morreu, os príncipes fizeram a partilha dos seus domínios, e Acambi ficou como regente do reino de Odudua até sua morte, embora nunca tenha sido coroado rei.

Com a morte de Acambi, foi feito rei Oraniã, o mais jovem dos príncipes do império, que tinha se tornado um homem rico e poderoso.

O obá Oraniã foi um grande conquistador e consolidou o poderio de sua cidade.

“Um dia Oraniã levou seus exércitos para combater um povo que habitava uma região a leste do império.

Era uma guerra muito difícil, e o oráculo o aconselhou a ficar acampado com os seus guerreiros num determinado sítio por um certo tempo antes de continuar a guerra, pois ali ele haveria de muito prosperar.

 Assim foi feito e aquele acampamento a leste de Ifé tornou-se uma cidade poderosa. Essa próspera povoação foi chamada cidade de Oió e veio a ser a grande capital do império fundado por Odudua.

 O rei de Oió tinha por título Alafim, termo que quer dizer o Senhor do Palácio de Oió.

“Com a morte de Oraniã, seu filho Ajacá foi coroado terceiro Alafim de Oió.

 Ajacá, que tinha o apelido de Dadá, por ter nascido com o cabelo comprido e encaracolado, era um homem pacato e sensível, com pouca habilidade para a guerra e nenhum tino para governar.

Dadá-Ajacá tinha um irmão que fora criado na terra dos nupes, também chamados tapas, um povo vizinho dos iorubás.

Era filho de Oraniã com a princesa Iamassê, embora haja quem diga que a mãe dele foi Torossi, filha de Elempê, o rei dos nupes.

Esse filho de Oraniã tinha o nome Xangô, e era o grande guerreiro que governava Cossô, pequena cidade localizada nas cercanias da capital Oió.

“Xangô um dia destronou o irmão Ajacá-Dadá, e o exilou como rei de uma pequena e distante cidade, onde usava uma pequena coroa de búzios, chamada coroa de Baiani.

“Xangô foi assim coroado o quarto Alafim de Oió, o obá da capital de todas as grandes cidades iorubás.

“Xangô procurava a melhor forma de governar e de aumentar seu prestígio junto ao seu povo. Conta-se que, para fortalecer seu poder, Xangô mandou trazer da terra dos baribas um composto mágico, que acabaria, contudo, sendo sua perdição.

 O rei Xangô, que depois seria conhecido pelo cognome de o Trovão, sempre procurava descobrir novas armas para com elas conquistar novos territórios. Quando não fazia a guerra, cuidava de seu povo.

No palácio recebia a todos e julgava suas pendências, resolvendo disputas, fazendo justiça. Nunca se quietava.

Pois um dia mandou sua esposa Iansã ir ao reino vizinho dos baribas e de lá trazer para ele a tal poção mágica, a respeito da qual ouvira contar maravilhas.

 Iansã foi e encontrou a mistura mágica, que tratou de transportar numa cabacinha.

“A viagem de volta era longa, e a curiosidade de Iansã sem medida.

Num certo momento, ela provou da poção e achou o gosto ruim. Quando cuspiu o gole que tomara, entendeu o poder do poderoso líquido: Iansã cuspiu fogo!

“Xangô ficou entusiasmadíssimo com a nova descoberta. Se ele já era o mais poderoso dos homens, imaginem agora, que tinha a capacidade de botar fogo pela boca. Que inimigo resistiria?

Que povo não se submeteria? Xangô então passou a testar diferentes maneiras de usar melhor a nova arte, que certamente exigia perícia e precisão.

“Num desses dias, o obá de Oió subiu a uma elevação, levando a cabacinha mágica, e lá do alto começou a lançar seus assombrosos jatos de fogo.

Os disparos incandescentes atingiam a terra chamuscando árvores, incendiando pastagens, fulminando animais.

O povo, amedrontado, chamou aquilo de raio. Da fornalha da boca de Xangô, o fogo que jorrava provocava as mais impressionantes explosões.

De longe, o povo escutava os ruídos assustadores, que acompanhavam as labaredas expelidas por Xangô.

Aquele barulho intenso, aquele estrondo fenomenal, que a todos atemorizava e fazia correr, o povo chamou de trovão.

“Mas, pobre Xangô, a sorte foi-lhe ingrata. Num daqueles exercícios com a nova arma, o obá errou a pontaria e incendiou seu próprio palácio.

Do palácio, o fogo se propagou de telhado em telhado, queimando todas as casas da cidade. Em minutos, a orgulhosa cidade de Oió virou cinzas.

“Passado o incêndio, os conselheiros do reino se reuniram, e eviaram o ministro Gbaca, um dos mais valentes generais do reino, para destituir Xangô.


“Gbaca chamou Xangô à luta e o venceu, humilhou Xangô e o expulsou da cidade. Para manter-se digno, Xangô foi obrigado a cometer suicídio.

Era esse o costume antigo. Se uma desgraça se abatia sobre o reino, o rei era sempre considerado o culpado.

Os ministros lhe tiravam a coroa e o obrigavam a tirar a própria vida.

“Cumprindo a sentença imposta pela tradição, Xangô se retirou para a floresta e numa árvore se enforcou.

"Oba so!", "Oba so!"

"O rei se enforcou!", correu a notícia.

“Mas ninguém encontrou seu corpo e e logo correu a notícia, alimentada com fervor pelos seus partidários, que Xangô tinha sido transformado num orixá. O rei tinha ido para o Orum, o céu dos orixás. Por todas as partes do império os seguidores de Xangô proclamavam:

"Oba ko so!", que quer dizer "O rei não se enforcou!"

"Oba ko so!", "Oba ko so!".

“Desde então, quando troa o trovão e o relâmpago risca o céu, os sacerdotes de Xangô entoam: "O rei não se enforcou!" "Oba ko so! Obá Kossô!" "O rei não se enforcou".”

(Cf. Prandi, Mitologia dos orixás.)


Assim narram os mitos, e a morte de Xangô nada mais é do que a afirmação dos antigos costumes africanos. Sua morte teria sido injusta e por isso o Orum o acolheu como imortal. A expressão “Obá Ko so” é evidentemente dúbia.

 Tanto pode significar “Rei da cidade de Cossô”, o que de fato Xangô também era, como “O rei não se enforcou”, frase que poderia ser também traduzida por “O Rei vive”, ou “Viva o Rei”, forma que é mais comum na nossa tradição ocidental.

A versão verdadeira não importa: divinizado, transformado em orixá, o obá Xangô, o Alafim de Oió, alcançou a imortalidade, deixou de ser humano, virou deus.

“Obá Kossô”, “Viva o Rei” é a fórmula pela qual, até hoje, em todos os templos dos orixás, é glorificado o nome de Xangô, o rei de Oió, o orixá do trovão, senhor da justiça.

De todos os orixás que marcam a saga da cidade de Oió, nenhum foi mais reverenciado que Xangô, mesmo quando Oió passou a ser apenas um símbolo esfumaçado na memória dos atuais seguidores das religiões dos orixás espalhados nos mais distantes países da diáspora africana do lado de cá e do lado de lá do oceano.

E há muitos elementos para estribar essa afirmação.


II: Xangô no Novo Mundo

No seu auge, o império de Oió englobava as mais importantes cidades do mundo iorubá, tendo assim o culto a Xangô, que era o orixá do rei ou obá de Oió, portanto o orixá do império, sido difundido por todo o território iorubano, o que não era muito comum, pois cada cidade ou região tinha os seus próprios orixás tutelares e poucos eram os que recebiam culto nas mais diversas cidades, como Exu, Ossaim e Orunmilá.

 O fato é que o apogeu da dominação da cidade de Oió sobre as outras resultou numa grande difusão do culto a Xangô.

Durante muito tempo a força militar de Oió protegeu os iorubás de invasões inimigas e impediu que seu povo fosse caçado e vendido por outros africanos ao tráfico de escravos destinado ao Novo Mundo, como acontecia com outros povos da África.

Quando o poderio de Oió foi destruído no final do século XVIII por seus inimigos, tanto a capital Oió como as demais cidades do império desmantelado ficaram totalmente desprotegidas, e os povos iorubás se transformaram em caça fácil para o mercado de escravos.

 Foi nessa época que o Brasil, assim como outros países americanos, passou a receber escravos iorubás em grande quantidade.

Vinham de diferentes cidades, traziam diferentes deuses, falavam dialetos distintos, mas tinham todos algo em comum: o culto ao deus do trovão, o obá de Oió, o orixá Xangô.


Isso explica a enorme importância que Xangô ocupa nas religiões africanas nas Américas, pois foi exatamente nesse momento histórico da chegada dos iorubás que as religiões africanas se constituíram nas Américas, isto é, no século XIX.

Particularmente no Brasil, os escravos recém-chegados eram trazidos não mais para o trabalho nas plantações e nas minas do interior, onde ficavam dispersos, mas sim nas cidades, onde eram encarregados de fazer todo o tipo de serviço urbano, morando longe de seus proprietários, vivendo em bairros com grande concentração de negros escravos e libertos, e tendo assim maior liberdade de movimento e organização, podendo se reunir nas irmandades católicas, com novas e amplas oportunidades para recriarem aqui a sua religião africana.


Nascido da iniciativa de negros iorubás que se reuniam numa irmandade religiosa na igreja da Barroquinha, em Salvador, o primeiro templo iorubá da Bahia foi, emblematicamente, dedicado a Xangô.

Seus ritos, que em grande parte reproduziam a prática ritualística de Oió, acabaram por moldar a religião que viria a se constituir no candomblé, e cuja estruturação hierárquica sacerdotal em grande parte reconstituía simbolicamente a organização da corte de Oió, isto é, a corte de Xangô, como veremos adiante.

Emblemas que na África eram exclusivos do culto a Xangô foram generalizados entre nós para o culto de todos os orixás, como o uso do colar ritual de iniciação chamado quelê.

Por estranha ironia, a nação de Xangô na Bahia acabou recebendo o nome de Queto, que é a cidade de Oxóssi, e não o nome de Oió, cidade de Xangô, como era de se esperar.

Mas essa denominação deve ter ocorrido muito tempo depois da fundação da Casa Branca do Engenho Velho, o primeiro terreiro de Xangô, de cujo chão Oxóssi é o dono, e que serviu de modelo a todo o candomblé.

 A denominação nação queto deve ter se dado já no século XX, quando angariavam grande prestígio e visibilidade dois terreiros que também fazem parte do núcleo de templos fundantes do candomblé: o terreiro do Gantois, dissidente da Casa Branca, e dedicado a Oxóssi, que era o orixá da cidade do Queto, e o terreiro do Alaketu, cuja fundação é atribuída a duas princesas originárias da cidade do Queto, e que também eram do grupo da Barroquinha.

 A expressão “nação queto” para designar o ramo do candomblé de origem iorubá que se constituiu a partir da linhagem da Casa Branca do Engenho Velho é recente e não era usada antes de 1950.

O nome mais comum era nação nagô, ou jeje-nagô. A própria Mãe Aninha, que fundou outro templo dissidente da Casa Branca, o Axé Opô Afonjá, e que, como o próprio nome indica, também é dedicado a Xangô, costumava dizer nos anos 1930: “Minha casa é nagô puro”.

Mas no Rio Grande do Sul, até hoje a expressão “nação Oió”, ou “Oió-ijexá” designa os terreiros de batuque de origem iorubá. A marca de Xangô continua ali muito presente.

Em Pernambuco, a primazia de Xangô acabou por dar nome a toda a religião dos orixás, que naquele e em outros estados do Nordeste é conhecida como xangô.

No Maranhão, dois templos de tradições diferentes disputam o posto de casa fundante do tambor-de-mina: a Casa das Minas, de culto exclusivo aos voduns dos povos fons ou jejes, e a Casa de Nagô, que, como o próprio nome aponta, dedica-se ao culto dos orixás, os deuses nagôs ou iorubás, além de cultuar também voduns e encantados.

 Ao contrário da Casa das Minas, que não teve terreiros descendentes e hoje se encontra em franco processo de extinção, a Casa de Nagô é a origem de vasta linhagem de terreiros, que se espalharam pelo Maranhão e Pará e chegaram até o Rio de Janeiro e São Paulo, ou mais além.

 A Casa das Minas de Tóia Jarina, de Diadema, é originária dessa matriz. Pois o patrono da Casa de Nagô não é outro senão Badé, nome pelo qual Xangô é reverenciado nos templos do tambor-de-mina.

Longe daqui, no Caribe, a palavra xangô também dá nome à religião dos orixás praticada em Trinidad-Tobago, nome que também pode ser observado entre populações americanas de origem caribenha na costa Atlântica do sul dos Estados Unidos.

Em Cuba, onde a santeria é tão viva e diversificada como o candomblé brasileiro, são muitos os indícios da supremacia ritual de Xangô. Talvez o mais emblemático seja o fato de que, durante a iniciação ritual, apenas os sacerdotes dedicados a Xangô, segundo a tradição cubana, têm o privilégio sobre todos os demais de receber na cabeça o sangue sacrificial, o que indicaria que o orixá do trovão tem precedência protocolar, e seu tambor é o mais sagrado instrumento musical da santeria.

Onde quer que tenha se formado alguma manifestação americana da religião dos orixás, seja o candomblé, o xangô, o batuque, o tambor-de-mina, a santeria cubana, ou o xangô caribenho, a memória do orixá Xangô, o obá de Oió, manteve o realce que o orixá do império detinha na África.

 Como obá, Xangô também era o mais alto magistrado de seu povo, o juiz supremo.

Sua relação com o ministério da justiça fez dele, entre os seguidores das religiões dos orixás, o senhor da justiça.

Num mundo de tantas injustiças, desigualdades sociais, marginalização, abandono e falta de oportunidades sociais de todo tipo, como este em que vivemos, o orixá da justiça ganhou cada vez maior importância.

Seu prestígio foi consolidado.

 Reiterou-se a posição de Xangô como o grande patrono do candomblé e grande protetor de todo aquele que se sente de algum modo injustiçado.


III: A corte do rei


A importância de Xangô na constituição do candomblé, que é brasileiro, pode ser identificada também quando examinamos as estruturas hierárquicas e a organização dos papéis sacerdotais do candomblé em comparação com o ordenamento dos cargos da própria corte de Oió, a cidade de Xangô.

Não há dúvida que as sacerdotisas e sacerdotes que fundaram os primeiros templos de orixá no Brasil tinham grande intimidade com as estruturas de poder que governavam a cidade do Alafim.

O candomblé é, de fato, uma espécie de memória em miniatura da cidade africana que o negro perdeu ao ser arrancado de seu solo para ser escravizado no Brasil.

Vejamos alguns dos cargos mais importantes da corte de Oió e sua correspondência com a hierarquia do candomblé de nação nagô.

Basorun – primeiro ministro e presidente do conselho real, que tinha mais poder que o próprio rei, exercendo também a função de regente quando da morte do rei até a ascensão do sucessor.

No candomblé é título dado a homem que ajuda na administração do terreiro, um dos membros do corpo de ministros em terreiros dedicados a Xangô.

Alààpínní – chefe do culto de egungum. No Brasil, igualmente alto sacerdote do culto dos ancestrais.

Balògún – chefe militar. No candomblé, cargo masculino de chefia da casa de Ogum. O falecido oluô Agenor Miranda Rocha, foi, por mais de 70 anos, o balogum da Casa Branca do Engenho Velho.

Lágùnnòn – embaixador do rei que tinha como encargo o culto ao orixá Ocô, divindade da agricultura. No candomblé, espécie de ajudante do pai-de-santo na provisão do terreiro.

Akinikú – chefe dos rituais fúnebres. No Brasil, oficial do axexê, que pode ser um babalorixá ou ialorixá ou algum ebômi ou ogã especializado nos ritos mortuários.

Asípa – representante dos governadores das aldeias na corte de Oió e encarregado do culto ao orixá Ogum. No Brasil, dignidade masculina.

Isugbin – corpo de tocadores e musicistas do palácio. No candomblé são chamados alabês, nome que na África era dado aos escarificadores, os que faziam os aberês, as marcas faciais identificadoras da origem.

Ìlàrí – corpo de guardas da corte e de mulheres. Adoradores de Oxóssi e Ossaim, eram também uma espécie de mensageiros e provedores reais. No candomblé, sacerdotes que cuidam da casa de Ossaim.

Èkejì òrìsà – literalmente, a segunda pessoa do orixá, cargo sacerdotal da corte do Alafim, sacerdotisa que não incorpora o orixá, mas que cuida de seus objetos sagrados. No candomblé, equede, todas mulher não-rodante confirmada para cuidar do orixá em transe e de seus pertences rituais. O cargo, elevado na África, deu às equedes posição de relevo também no candomblé, onde têem o grau de senioridade.

Ìyá-nàsó – mãe do culto do Xangô do rei (divindade pessoal). No Brasil, nome de uma das fundadoras do candomblé e título feminino.

Ìyáalémonlé – encarregada de cuidar do assentamento pessoal do rei. Entre nós, quem cuida do assentamento principal do pai-de-santo.

Ìyá-lé-òrí – mãe dos ritos de oferecimento a cabeça do rei, mantém a representação material da cabeça do rei em sua casa. No candomblé preside o bori.

Ìyá mondè ou bàbá – Mulher que cultua os espíritos dos reis mortos. Chamam-na também de Bàbá. O alafim dirige-se a ela como “pai”, pois elas detêm a autoridade do “pai”, como as dirigentes da umbanda brasileira, também chamadas de babá.

Ìyá-le-agbò – prepara os banhos rituais do rei. No candomblé, mulher que cuida dos potes de amassi.

Ìyá-kèré – chefe das mulheres ilaris; é ela quem coroa o rei no ato de sua entronização. A atribuição, mantida, é hoje no candomblé da competência de pais e mães-de-santo que colocam no trono o novo chefe do terreiro nas ocasiões de sucessão.

Muitos outros títulos do candomblé foram tomados de outras cidades e instituições que não a corte de Oió, mas é inescondível a importância da cidade de Xangô na estruturação dos terreiros brasileiros de origem iorubá.

 De toda sorte, são variadas as adaptações, muitas vezes esvaziando-se o cargo de suas funções originais.


Com o sentido de reforçar a idéia do terreiro de candomblé como sucedâneo da África distante, para legitimar suas estruturas de mando e valorizar sua origem, cargos de tradição africana são recuperados e adaptados com certa liberdade pelos dirigentes brasileiros.

Assim surgiram os obás ou mogbás de Xangô, conselho de doze ministros do culto de Xangô, instituído inicialmente no terreiro Axé Opô Afonjá na década de 1930 por sua fundadora Mãe Aninha Obabií, assessorada pelo babalaô Martiniano Eliseu do Bonfim, e depois reinstalado nos mais diferentes terreiros que têm Xangô como patrono.

 Os obás brasileiros de Xangô têm funções diversas daquelas africanas, mas os nomes dos cargos são referência constante à vida político-administrativa dos iorubás antigos.

Eles são divididos em ministros da direita, com direito a voto, e ministros da esquerda, sem direito a voto. Cada um deles conta com dois substitutos, o otum e o ossi.


O conjunto dos obás da direita criados por mãe Aninha é constituído dos seguintes cargos:

Abíódún (nome que designa aquele nascido no dia da festa);
 Àre (título que se dá a uma pessoa proeminente da corte);
 Àrólu (o eleito da cidade);
Tèla (nome masculino da realeza de Oió);
Odofun (cargo da sociedade Ogboni);
Kakanfò (título do general do exército).


Os da esquerda são:
Onansòkun (pai oficial do obá de Oió);
 Aressá (título do obá de Aresá);
 Eleryin (título do obá de Erin);
Oni Koyí (título do obá de Ikoyi);
 Olugbòn (título do obá de Igbon);
e Sòrun (chefe do conselho do rei de Oió).

Estes nomes designam hoje postos sacerdotais, dignidades religiosas; na África designavam cargos de homens poderosos que controlavam a sociedade ioruba e suas cidades.

Um rei africano era, antes de mais nada, um guerreiro.

Guerras, conquistas, povoamento de novas terras, escravidão, descoberta e renascimento, tudo isso faz parte da história de Xangô, rei e guerreiro, como faz parte das memórias de nossa própria civilização de brasileiros.

Mas Xangô é mais que história da África e mais que história do Brasil.

Seu duplo machado visa a justiça para cada um dos dois lados que se opõem na contenda, suas pedras-de-raio são o santuário guardião das esperanças de tanta gente que padece em conseqüência das mazelas de nossa sociedade: desemprego, falta de oportunidades, incompreensão e dificuldade no trabalho, escassez de meios de sobrevivência, perseguição e disputas insanas, inveja, complicações legais de toda sorte, e tantas outras coisas ruins.

 Apelar a Xangô, para o devoto, é buscar alento, realimentar esperanças, prover-se de forças para a difícil aventura da vida.

Mas no terreiro em festa, sob o roncar frenético dos tambores, a dança de Xangô não é tão somente demonstração de energia e de força marcial, de cadência e de vitalidade, mas igualmente harmonia, graça e sensualidade.

Xangô é duro, mas também se compraz com o bom da vida.

O paladar de Xangô lembra as qualidades do bom glutão que não dispensa jamais o prazer da boa mesa, tanto que até nos faz pensar nele como um rei gordo e guloso.

 Tanto é assim que suas oferendas votivas devem ser sempre servidas em grande quantidade, pois Xangô aprecia que seus súditos comam muito e bem.


Seu prato predileto é o amalá, comida feita à base de quiabo, camarão, pimentas de várias qualidades, e tantos outros condimentos que são verdadeiras iguarias, utilizados pelas filhas-de-santo que muito apreciam e disputam a preparação da comida para os deuses.

A comida servida no terreiro serve também para “reunir gente”, e Xangô é o orixá que mais as acolhe, pois toda corte é repleta de súditos e não seria diferente no terreiro, onde há sempre muita gente, muita dança e muita comida.


Além de orixá comilão, Xangô também é o grande amante e teve muitas mulheres como contam seus mitos.

Um deles relata que Xangô era um rei poderoso, um dia apareceu em seu reino um grande animal que devorava a todos, homens, mulheres e crianças.

 Xangô, acompanhado de suas três mulheres resolveu enfrentar o animal monstruoso.

 Xangô amava suas esposas, mas amava também todos os homens e mulheres que o acercavam, e nada mais natural do que defendê-los de tal criatura.

O ser monstruoso rugia e toda a terra tremia.

 Xangô não quis soldados para vencer o animal. Xangô lançou chamas de sua boca e derrubou o animal matando-o depois num só golpe com seu oxé.

Vitorioso, Xangô cantou e dançou, estava feliz. Dali em diante foi ainda mais amado pelos homens e mulheres de seu povo e por todos aqueles que ouviram falar de seu feito.

No Brasil, o aspecto erótico da representação de Xangô foi muito atenuado em comparação a Cuba, onde seus gestos de dança insinuam relações sexuais e seus objetos de forma fálica enfatizam seu gosto pelo sexo.

Mas mesmo entre nós é o orixá de muitas esposas. Tantas mulheres e tantas paixões carnais não reforçam e são a confirmação de que a vida pode ser plena das doçuras e gozos do amor?

O que queremos dizer é que Xangô não nos remete tão somente aos aspectos sérios, circunspectos e duros dos compromissos do dia-a-dia, mas nos faz lembrar, sim, o tempo todo, que a vida é muito boa para ser vivida, e por isso mesmo temos que lutar por ela sem descanso.

 É por essa razão que o fiel sempre pede passagem para o rei, gritando para o povo reunido em festa: “Deixai passar, deixar passar Sua Majestade”, “Kaô, kaô Kabiessi”.



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